A surpreendente saúde dos cubanos

9 de outubro de 2007 5 Por Renato

“Sorprendente” salud de los cubanos
María Elena Navas
BBC Ciencia

Pesquisadores dos Estados Unidos e de Cuba resolveram estudar quais foram os efeitos da pior crise econômica pela qual passou Cuba em 1990. E os resultados surpreenderam a muitos.

O estudo demonstrou que a crise levou a “dramáticas” melhoras na saúde da população.

A pesquisa, publicada na Revista Americana de Epidemiologia, descobriu que durante a década de 90 os cubanos diminuíram notavelmente a tendência a enfermidades cardiovasculares e a diabetes.

“Os resultados da pesquisa são surpreendentes”, disse a BBC Ciência o professor José Tapia Granados, da Universidade de Michigan e um dos autores do trabalho.

“Porque, durante a crise econômica, as condições de saúde dos cubanos melhoraram dramaticamente e a mortalidade diminuiu”, completou o pesquisador.

A crise, que começou em 1989, com a queda da União Soviética, levou a cinco anos de fortes reduções nas importações, no racionamento de alimentos e no transporte público. Isto levou os cubanos a caminhar, fazer mais exercício e fumar menos. Como resultado, a mortalidade causada por diabetes se reduziu em 51% e as enfermidades cárdio-vasculares em 35%.

Mortalidade

Os pesquisadores analisaram estatística e dados de censos demográficos de Cuba no período de 1980 e 2005.

O objetivo era determinar a evolução dos índices de mortalidade durante a crise econômica ocorrida entre 1991 e 1995 e os anos imediatamente anteriores e posteriores.

Durante estes anos o consumo diário de energia per capita reduziu-se de 2900 calorias para 1863.

Além disto, a falta de transporte público significou um incremento nos exercícios físicos da população, de 30 a 67%, equivalente a uns 30 minutos de atividade moderada ou intensa, durante pelo menos 5 vezes por semana.

“É difícil identificar qual é exatamente o principal fator que teve este efeito” disse José Tapia.

“Mas em conjunto, todos estes fatores tiveram um efeito muito forte sobre as principais causas de mortalidade, que são as enfermidades do coração, os acidentes vasculares cerebrais (AVC), assim como o efeito sobre o diabetes.

Segundo os pesquisadores, a população cubana chegou a níveis mais saudáveis de índice de massa corporal (IMC) e a obesidade se reduziu de 14 a 7%.

Ainda, o consumo anual per capita de cigarros, entre 1980 a 1997, se reduziu em mais de 50%.

O autor deste estudo afirma que “a crise econômica forçou muita gente a fazer muito mais exercício físico e a diminuir o consumo de calorias, o que os fez perder peso”.

“A população teve de caminhar mais e usar bicicletas por que não havia meios de transporte e isto teve um efeito muito positivo sobre as taxas de mortalidade”.

Os resultados do estudo mostraram que a mortalidade causada por diabetes se reduziu em 51%, por enfermidades coronárias em 35%, por AVC em 20% e por causas gerais em 18%.

Neuropatias

A crise, sem dúvida, também tem efeitos nocivos para a saúde.

“Encontramos um pequeno aumento na mortalidade de recém-nascidos”, disse Tapia Granados. “E nestes anos de crise econômica houve também uma epidemia de uma enfermidade ocular chamada ‘neuropatia ocular’ que causa alterações na visão”, acrescentou o cientista.

Não se conhecem com precisão quais são as causas deste transtorno mas acredita-se que esteja relacionada com a falta de micro-nutrientes.

“Quiçá esta neuropatia epidêmica, que afetou milhares de pessoas, se deva a uma alimentação homogênea, com pouca variedade, em que faltavam frutas e verduras”, disse o autor do estudo.

Porém, nenhum setor da população experimentou desnutrição aguda, o qual se deveu, principalmente, ao sistema de racionamento de alimentos.

De qualquer forma, em Cuba, existe uma prevalência muito pequena de enfermidades infecciosas, as quais se agravaram durante a crise devido a falta de nutrição.

“Realmente, as enfermidades mais importantes no país são as cardio-circulatórias, que estão muito menos relacionadas com a nutrição. E são as enfermidades causadas pelo excesso de comida e não a sua falta, como acontece na maior parte do mundo, o maior problema de saúde.

Neste estudo também participaram pesquisadores da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, a Universidade de Loyola e o Hospital Universitário Cienfuegos, em Cuba.

Tradução livre a partir do original em espanhol aqui.

Via: [Ciudad Ciclista]

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