Segunda de carnaval: Quiriri

25 de fevereiro de 2009 6 Por Renato

Como não gosto de carnaval, a bagunça, mas adoro um feriado, fomos o Marcos, o Mildo e eu para um pedal motivador: subir o Quiriri e depois se abastecer com um churrasco, que o amigo Giovane prometeu, se chegássemos ao racho de pedra.

O Mildo chegou faltando cinco minutos para às sete e vinte minutos depois partíamos em direção a Tijucas do Sul, onde o Marcos estava nos esperando, na localidade chamada Tabatinga.

Tabatinga, ponto de encontro e de partida.

Tabatinga, ponto de encontro e de partida.

E chegamos na hora combinada. Pegamos uma estrada de chão e rumamos em direção ao Quiriri. Àquela hora da manhã o clima estava bem ameno, ainda com uma boa cobertura de nuvens. Mas quando chegamos no Postinho, o sol já estava pegando. Nos abastecemos com água, tomamos uma coca-cola, por que daqui a pouco começaria a subida do morro.

O Quiriri, logo atrás.

O Quiriri, logo atrás.

Parada estratégica para se refrescar. O rio que passa ao lado da estrada é um convite para cair na água, tirar a poeira, relaxar e se preparar para o que vem pela frente. A água é um pouco gelada, mesmo com temperatura por volta dos 30 °C, mas ajuda! Aproveitei para molhar a camisa e a bandana, por que na subida o motor ferve.

Começamos bem, com o ritmo do Mildo e fomos subindo, subindo… A estrada está sendo usado por uma mineradora para extrair o caulim, então vem sendo mantida em bom estado de conservação. Isto do ponto de vista de um ciclista. Para o pessoal que vem de carro, isto é caminhonetes com tração integral ou até um fusca, a estrada é terrível. Vimos um Mitsubishi L-200 subindo e deu para sentir como a estrada é péssima. Mas para nós estava muito boa, comparada com a última vez que estivemos na Serra do Quiriri.

No meio da subida, quando já ouvia um bloco de carnaval bem perto de mim (era o meu coração, que aquela altura já fazia barulho), o Marcos chamou a tenção do Mildo para o pneu traseiro, que esvaziava lentamente. Um furo. Na subida. Descanso e fotos.

Mildo consertando o pneu.

Mildo consertando o pneu.

Seguimos o baile. Empurrei a bike mais um pouco, pois estávamos em um local com uma das piores inclinações, e voltamos a pedalar. Como disse o Marcos, a vovozinha dele já tinha tido um enfarte. Explico: as relação na subida foi, 99 % do tempo, 22×34. Quando chegamos em um platô, ficamos todos alegres, achando que já havíamos acabado de subir. Estávamos enganados, tinha mais um pouco. Mas logo chegamos no topo, pelo menos da estrada: 1380 m.

Altitude máxima: 1380 m.

Altitude máxima: 1380 m.

Seguimos para a sede da fazenda do Schneider, conversamos com o caseiro e pedalamos até onde era possível. Encontramos a caminhonete do pessoal, bem próxima de uma torre meteorológica e quase perdemos a respiração: lá embaixo podíamos avistar Joinville, Rio Bonito, Pirabeiraba e a baía de Babitonga. Um visual simplesmente alucinante.

O lado de lá: Joinville.

O lado de lá: Joinville.

Dali para a frente só a pé. Escondemos as bicicletas em um capão de mato e fomos seguindo a trilha do Peabiru ou o caminho dos Ambrósios, construído por volta de 1850, com mão de obra escrava. Tinha a finalidade de facilitar o acesso das mulas de carga ao planalto e vice-versa. Por este caminho é possível chegar a Garuva.

Caminho dos Ambrósios

Caminho dos Ambrósios

Subimos e descemos algumas colinas e logo avistamos o pessoal. Mas cadê o churrasco, Giovane? Nada! Bom anfitrião que ele é ofereceu-os um… MIOJO! Claro, acompanhado de sardinhas em lata! Uma iguaria sem fim. Naquela situação comeríamos até pedra, se tivesse algum tempero. De qualquer forma, aquele miojo jamais será esquecido, pois estava muito bom. O duro era a fome do Marcos, quase comeu a lata de sardinha e só não lambeu por que teve medo de cortar a língua. Mas aí vei o Giovane com um salvador pedação de pão.

Terminada a refeição, regado com excepcional refresco de uva (Tang), subimos mais uma colina para ver o visual: de novo Joinville e região. Pena que havia um pouco de névoa sobre o vale, mas mesmo assim é de tirar o fôlego. Fotos feitas, resolvemos voltar, pois teríamos mais uma hora de caminhada e o tempo começava a fechar a oeste, com uma tempestade se aproximando.

A tempestade chegando

A tempestade chegando

Chegamos as bicicletas no exato momento que a chuva chegou. Felizmente leve, um pouco forte, mas nada de terror. Um pouco de trovoadas, decidimos descer até a sede da fazenda. Se estivesse caindo raios estaríamos em um belo apuro, lá em cima sem lugar algum para se proteger. Desci antes dos dois e acabei pegando pouca chuva e o solo ainda bom para descer rápido. O Marcos, que tentava entrar contato com a sua esposa, acabou pegando mais chuva, junto com o Mildo, mas este prevenido como é, já tinha colocado a sua capa de chuva.

Quem está na chuva...

Quem tá na chuva...

... está para se molhar

... está para se molhar

Passada a chuva, tínhamos de descer o morro. Como agora éra só descida, achávamos que em 10 ou 15 minutos estaríamos lá no pé do morro. Eu pensava até em tomar outro banho. Quando saímos da fazenda e pegamos a estrada de terra percebemos o tamanho da enrascada: aquilo que era chão batido de manhã agora era lama grudenta e fofa, que não descolava do pneu. Resultado: até dava para subir na boa, pelo menos eu que estava com pneu com mais cravos, mas descer, nem pensar. A bicicleta tinha vida própria: ela decidia o caminho. Tinha um pessoal, descendo com um Fiat Pálio e era a mesma coisa, com a vantagem que eles tinham quatro rodas e não caiam na lama!

Descendo a ladeira.

Descendo a ladeira.

O cômico da história foi ver o tombo que o Marcos quase levou. Em uma curva ele se desequilibrou, desclipou, ergueu as pernas e eu pensei: é chão! Como ele saiu da minha vista gritei para ver se estava bem e ele me aparece todo faceiro, quase transparente, dizendo que não tinha caído. Até agora ele não sabe como não caiu, só lembra de ter pedido: Jesus, me acuda! Pelo jeito, acudiu!

Resultado, chegamos no pé do morro já era passado das 19 horas e anoitecia. Lavamos um pouco as bikes, não dava nem para trocar as marchas do câmbio dianteiro e seguimos no escuro até o postinho, onde a esposa do Marcos deveria estar nos esperando. Pedalado mais alguns quilômetros percebemos que o chão estava seco. Não havia chovido por ali.

Muita lama.

Muita lama.

Logo encontramos a Lizete, braba com só. E com razão.

Mas que a valeu a pena, valeu. No total foram 95 km pedalados e 5 km de trilha a pé. A paisagem, como sempre deslumbrante, mas o entardecer, com o sol de uma lado e as nuvens de tempestade do outro, marcarão esta pedalada como aquela inesquecível. Quem foi, viu! Obrigado pela companhia ao Marcos e ao Mildo, dois grandes companheiros, principalmente quando o pedal é uma roubada daquelas!

Para ver mais fotos:

Trajeto e estatísticas:

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