Deu no estadão

4 de dezembro de 2008 2 Por Renato

‘O doping é como a máfia’, diz especialista

Ex-presidente da Wada, Dick Pound afirma que a estrutura criada para beneficiar atletas que trapaceiam é igual à das organizações criminosas

Odiado por muitos atletas e dirigentes, o advogado canadense Richard Pound diz que não sente saudade de seu antigo trabalho – no início do ano, deixou a presidência da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), entidade que ajudou a criar e comandava desde 1999. Mas não se vê fora da briga quando o assunto é o uso de substâncias proibidas.

Pound afirmou, em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, que a disseminação do doping pelo mundo usa estrutura semelhante à da máfia. Deve, por isso, ser combatida da mesma maneira. “O doping é como a máfia. Precisamos da colaboração da polícia e dos promotores. Nossas armas são muito limitadas: nós só podemos testar urina e sangue. Os investigadores podem ler e-mails, grampear telefones, um arsenal maior do que uma amostra de xixi.”

O dirigente também faz um alerta: o doping genético não é ficção. “Já sabemos que existem testes, por isso temos de tratar o assunto seriamente. Uma coisa é certa: quando o doping genético for possível, o uso de esteróides anabolizantes será tão moderno quanto pinturas pré-históricas.”

Segundo Pound, “o mundo de quem se dopa é um mundo de doentes”. Para corroborar sua tese, contou a história de um cientista da Escola de Medicina da Pensilvânia, nos EUA. “Lee Sweeney conseguiu aumentar em 35% a massa muscular de um rato graças à engenharia genética. Metade dos e-mails que recebe é de atletas dizendo: ‘Tente isso comigo’. Sweeney responde que não sabe como o corpo humano reagiria a tal intervenção. Mas os atletas pedem: ‘Tudo bem, faça o teste.’”

Ex-nadador, Pound tem hoje 66 anos. Nos Jogos de Roma, em 1960, foi 6º colocado nos 100 m livre – o brasileiro Manoel dos Santos ficou com o bronze. Membro do Comitê Olímpico Internacional desde 1978, diz que despertou para o doping em 1988, nos Jogos de Seul. “Foi quando, pela primeira vez, estive frente a frente com um atleta acusado de trapacear. Foi meu compatriota Ben Johnson, que tinha acabado de vencer os 100 m rasos com um recorde mundial.”

Fonte: [O Estado de São Paulo]

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